Incluída na programação da semana do calouro de Psicologia - UFPE, a visita a Associação NEINFA (Núcleo Educacional irmãos Menores de São Francisco) localizada na comunidade do Coque, foi a meu ver um banho de perfume na carência de cheiros, afetos, conhecimento, para os calouros e para os veteranos. Deixe-me explicar melhor:
Assim que nosso grupo chegou, deram um passeio na comunidade com o prof. Aurino, que nos recebeu super bem, para talvez, verificar as condições precárias que aqueles moradores vivem, principalmente falando, de saneamento básico. Eu, por estar doente cheguei alguns minutos depois do passeio (fui de casa) e esperei eles voltarem.
Em seguida, juntamente com o grupo, conhecemos os espaços do NEINFA, e com uma breve apresentação das atividades ali realizadas, visto que não há espaços fixos para determinadas atividades, andamos em direção a uma sala para nos acomodarmos e conversar melhor. A partir daí, o professor Aurino nos presenteou com o tal perfume falado acima, que não quer dizer que seja apenas doce e suave. Não só porque nos mostrou outra realidade, ele também nos mostrou como é possível trabalhar como trabalham lá. E sei que é um trabalho sério, árduo, gratificante, de 25 anos de existência e construções.
Há novas psicologias se revelando a cada instante, dependendo do contexto social a qual está inserida, ou seja, pra que veio. O NEINFA se inclui, podemos dizer na Psicologia comunitária. Aquela em que os moradores da comunidade não apenas recebem, eles se doam, eles participam, eles possuem voz e voto. Podemos pensar que se trata de uma concepção utópica, que tudo é lindo na teoria, porém na prática não é assim que acontece. Podemos e, por vezes, devemos, estar enganados em relação aos nossos achismos. Claro, que é um trabalho muito difícil, no entanto, com a participação crítica, com o envolvimento das pessoas, ou seja, com o sentimento de pertença, vínculo e, porque não, objetivos em comum – mesmo dentro de várias concepções de mundo e processos de estruturação do sujeito diversa – é possível.
É muito importante tocar nesse assunto, porque em vários momentos, o prof. Aurino enfatizava que todas as crenças são respeitadas. O NEINFA trabalha com crianças, jovens, adultos e vovós, na responsabilidade de compartilhar conhecimento, educação, espiritualidade, projetos de mídia, projetos de cesta básica – no qual todos promovem o cuidado do outro e o cuidado de si. Os colaboradores, parcerias e integrantes do NEINFA possuem o comprometimento de formar cidadãos. E o que isso tem a ver com a psicologia? Tudo, pois em comunidade temos a oportunidade de trabalhar em grupos, e algumas vezes, individualmente. Quer aprendizagem e compartilhamento melhor do que viver isso intensamente, em tempo real?
O prof. Aurino em uma de suas falas nos traz sobre, como várias instâncias da sociedade, durante o desenvolvimento humano, vai tolindo e moldando nossas possibilidades de ser, de vir-a-ser, de comportamento, ao ponto de chegarmos a pensar o tempo inteiro, como devemos nos vestir; o que e como devemos falar; qual nossa postura, etc, etc. – e quando se trabalha em comunidade isso não é predominante; se a pessoa tem vontade de dizer tal coisa, diz; se expressam, dessa forma, muito mais a nível corporal do que “mental”. Não pretendo aqui fazer juízo de valor; estou apenas reproduzindo o meu entendimento a respeito do que o Prof. Aurino nos trouxe. Creio que ele se referiu a cristalizações, couraças, maiores elaborações intencionais, que acontecem geralmente na família de classe média/alta, no trabalho, etc. Sendo assim, as reações dos participantes de um grupo no NEIFA são por vezes (também depende da temática) muito acaloradas, por exemplo, principalmente quando nestes grupos tratam de questões complexas e difíceis de se trabalhar, como diferenças sócio-econômicas, como se vêem sendo moradores de uma comunidade – Coque - que fora e ainda é estigmatizada pela violência e miséria, e como eles se vêem lá fora; como são vistos. Levemo-nos em conta que o estudante/profissional de psicologia, além de aéreas da educação, da ciência social, política, tem um campo imenso, riquíssimo de humanidades, e mais uma vez repito, complexo pra se trabalhar, faltando preparo, incentivo, apoio de órgãos públicos como a Universidade (podendo ser essa a intenção da instituição publica).
No NEINFA, eles no momento estão desenvolvendo um mega projeto em parceria com o Centro de Educação da UFPE. Essas são algumas das muitas problemáticas levantadas por cada grupo em sua especificidade e baseadas, talvez nos princípios da criação e organização da Associação, sem falar da realidade que lhes cabe. O NEINFA tem como objetivo também compreender essas diferenças de realidades e auxiliar o sujeito em sua busca pessoal, na tentativa de desconstruir determinismos psíquicos e sociais, visando o Cuidado.
Pra finalizar, fica a dica para que cada curioso, estudante do ser humano possa querer e acreditar mais nesse cuidado. E, isto, pode acontecer desde a faculdade (no nosso caso) sem depender muito da grade curricular defasada ou de professores, que ainda são poucos, os que clareiam mais do que escurecem nosso campo de visão e emoção do mundo. Até porque teoria é uma coisa, prática é experiência e, que claro, pode ser enriquecida com a teoria, pois esta não surgiu do nada. Digo isso, porque 98% dos teóricos apresentados pelo prof. Aurino em sua apresentação não são apresentados em sala de aula (estou no último período teórico e tinha uma graduanda de estágio lá, e que como eu só conhecia alguns deles por outros meios, que não a sala de aula). Busquem em seu caminho sempre o melhor para si e para o outro.
Alessandra Alencar
graduanda de Psicologia - UFPE,
participante do coletivo contramola
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