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sábado, 28 de agosto de 2010

Poder, Controle e coisinhas afins (parte 1)



Semana passada, numa óóóóóótima aula (¬¬) com professores não tão flexíveis, não tão abertos ao diálogo com novas teorias , tive que ver um "roteiro" de uma "anamnese" (entrevista com paciente psiquiátrico). Confesso que me senti extremamente perturbado. Tinham perguntas tão invasivas, tão indelicadas que eu próprio me sentiria violado ao ter que responder elas, quiçá uma pessoa em sofrimento psíquico. Mas, quem sou eu pra tentar bater de frente com o prepotente discurso médico?? Apenas um singelo estudante de psicologia que deveria, segundo alguns projetos, me submeter totalmente ao poderio de uma classe profissional superior (vide, ato médico).
Mas enfim, loucuras e megalomanias de classes a parte, o que me preocupa mais é que tipo de atendimento se dá a pessoas doentes? O simples fato de ela/e não ter conseguido sustentar as frágeis barreiras que construímos para separar-nos de algumas realidades e ter entrado em algum surto psicótico nos dá o direito de tratá-la como objeto de nosso conhecimento? (tal qual os nossos velhos amiguinhos branquinhos das gaiolas no laboratório de fisiologia).
O que me incomodou mais ainda foi saber o formato em que essas perguntas serão feitas. O todo poderoso professor buscará algum paciente/"voluntário" na enfermaria e o levará a uma sala de aula, onde estarão 15 (QUINZE) estudantes que serão obrigados a anotar cada expressão, cada traço de comportamento e cada uma das dezenas de respostas que lhe serão exigidas. Nome, idade, endereço, é só o começo, o absurdo chega ao ponto de perguntar quantas vezes a mãe dele engravidou, quantas dessas chegaram ao fim e mais e mais coisas extremamente invasivas e cujo conteúdo, na minha opinião, poderiam deixar qualquer surto, bem mais terrível.
Me pergunto então, que universidade é essa que nos capacita a decidir pelo outro e utilizar ele da forma que der na telha? Porque algumas pessoas passam a necessitar tanto da ilusão de poder sobre pessoas, que passa a acreditar que realmente possui esse poder e, para afirmá-lo utiliza-se de métodos antiquados, violentos e generalizantes? Não bastando isso, ainda obrigam-nos a repetir esses mesmos métodos, desconsiderando totalmente a pessoa que vai estar ali na nossa frente - afinal, um esquizofrênico é mesmo um ser humano??
E pelo que nos chega, ai daqueles que ousarem mostrar as falhas desse sistema, pois os que nos obrigam a reproduzi-lo acreditam deter o poder legitimado pela instituição acadêmica, e demonstram fazer questão de afirmar isso a todo momento, com a sua postura prepotente, com a inexistência total de qualquer abertura para diálogos.
Só me pergunto se, em algum dia alguma dessas ilustres pessoas já leu Michel Foucault. Ou se mesmo ouviu falar em Foucault, se não, acho uma pena. Eles adorariam algumas ideias sobre o invasivo poder médico ou sobre a historia da loucura.
Mas enfim
Quem sou eu para ousar ter pensamentos que vão de encontro a essa hegemonia toda?
Apenas um mero estudante de psicologia com sérios riscos de reprovar caso decida falar o que realmente pensa.

Um comentário:

  1. marcelo, você arrasou. fiquei arrepiada só de pensar em pagar essa cadeira semestre que vem... é foda. vamo organizar um levante dos estudantes contra esse tipo de exercício!

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