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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

EREP N/NE: um exemplo bem-sucedido de autogestão


Convidamos a todos e todas a participar do VI Encontro Regional de Estudantes de Psicologia do Norte-Nordeste, que esse ano será realizado em Salvador, Bahia, entre os dias 9 e 12 de outubro, sob o tema "Psicologia, sociedade e autogestão: construindo identidades a partir da coletividade”. O nosso próximo pré-EREP será no dia 21 desse mês, às 19h, no hall em frente ao DA-Psi, segundo andar do CFCH. As vagas para Pernambuco são limitadas e a participação nos pré-EREPs é importante... Pré-inscrições em: http://erepnne.webnode.com.br/pre-inscrições/

O evento vem acontecendo pela sexta vez e é um exemplo bem-sucedido de autogestão. Segue abaixo a carta de pricípios do evento que fala um pouco sobre o tema e sobre o Erê, como é carinhosamente chamado. Fonte: http://erepnne.webnode.com.br/carta-de-principios/


Fotos: EREP Sobral 2009



CARTA DE PRINCÍPIOS DA COEREP N/NE (2010)

03 de Maio de 2010,

Em dezembro de 2008, em João Pessoa - PB, em uma Reunião Presencial de avaliação do IV e planejamento do V EREP N/NE, o grupo de estudantes ali presente consensuou que se faz necessário um resultado sistematizado da discussão sobre os princípios deste grupo. Notou-se que, muitas vezes o que por algumas e alguns parecia óbvio desde sempre, para outros nem tanto assim, o que provocava alguns ruídos na comunicação dificultando o andamento dos trabalhos do grupo.

Além disso, para aquelas e aqueles que estavam chegando, ficava bastante complicado entender a dinâmica de funcionamento do grupo e a que ele se propõe. Compreendemos que a construção conjunta de um texto com os princípios deste atual coletivo e sua divulgação, poderia despertar o interesse de novas pessoas em conhecê-lo mais de perto e optar por fazer parte dele, ou não; bem como se sensibilizar pra contribuir com a mudança contínua dos referidos princípios.

Esse texto, portanto, tem um caráter afirmativo, na medida em que pretende explicitar alguns dos posicionamentos políticos do atual grupo, e também seus interesses ao propor um encontro e movimentação de estudantes de psicologia do Norte e Nordeste. Ele ainda busca desmistificar, pois ao escrever “quem somos” (ou quem estamos sendo) podemos também mostrar um pouco do que “não somos” (ou quem não estamos sendo), nossos limites, nossas margens identitárias e nossos acordos transitórios.

ONDE SOMOS, O QUE SOMOS?

Esta não foi a primeira vez que se pensou em construir essa carta. No entanto, havia o receio por parte de algumas e alguns de que um texto como este pudesse ser identificado como um estatuto, fechado e fixo – algo que tivéssemos que seguir acriticamente, ou que poucas pessoas pudessem ter acesso e alterar. Pensando nisso, e compreendendo a importância de afirmar nossos posicionamentos, consensuamos então que o texto seria construído, desde que houvesse uma constante reformulação e publicização dessas mudanças.

Não queríamos um ‘estatuto’, pois não somos Instituição e a COEREP não possui um caráter representativo.Também não pensamos ser necessário prescrições reguladoras fixas para que tenhamos sentido enquanto coletivo e enquanto estudantes em movimento Nós somos, então, participantes de um movimento que se propõe a articular pessoas. Somos movimento e, enquanto tal, estamos em incessante metamorfose.

Somos estudantes do Norte e Nordeste do país e nos propomos a organizar um encontro tão nortista quanto nordestino. Por esse motivo, nos propomos a alternar o local da sede do encontro entre essas regiões. Acreditamos que por muito tempo estivemos distantes, mas agora queremos estreitar laços, nos conhecer e dialogar enquanto estudantes de psicologia do N/NE. Essa alternância entre regiões foi e ainda é importante para que conheçamos nossa diferentes realidades nortistas e nordestinas.

Mas por que essa rotatividade da sede do encontro? Ela é uma regra? De forma alguma; na verdade acreditamos que a cada nova cidade/sede, construimos novos vínculos, os já existentes se fortalecem e esse é um dos argumentos para variarmos o local do encontro. Entendemos que a cada nova cidade/estado que sedia um encontro, há um amadurecimento político do movimento estudantil nessa região. Com o passar do tempo, é bem provável que se repitam sedes na mesma região e, num futuro não muito distante, revisitaremos localidades que já sediaram o encontro. E como a realidade é bastante mutável, mesmo nas revisitações, algo de diferente se encontrará, pois novos ares existirão, novos estudantes, novas vozes e novas posturas estarão sendo construídas. O importante é que, a cada mudança de sede, não esqueçamos que somos Norte-Nordeste e o hífen desta díade não existe por acaso, ele existe porque independente de qual cidade sedie o encontro, o espírito de construção conjunta e de aproximação dessas duas regiões do Brasil deve permanecer.

Sobre nós, temos ainda a dizer que não somos todos iguais, aliás, somos muito diferentes. Falamos diferente, temos raízes culturais diferentes, acreditamos em diferentes paradigmas, mas temos alguns princípios que nos unem: fazemos movimento estudantil. E o fazemos, pois acreditamos numa possibilidade de problematização e mudança social. Temos princípios e a não neutralidade como posicionamento.

Não lutamos por igualdade, achamos que esta não dá conta de nossas demandas tão diversas. Temos como princípio a equidade, pois queremos pensar nas especificidades de cada uma e de cada um, queremos que os diferentes sejam tratados com a diferença que é necessária. Como falou Boaventura, "devemos lutar pela igualdade sempre que a diferença nos inferioriza; devemos lutar pela diferença, sempre que a igualdade nos descaracteriza." (Boaventura de Souza Santos)

E, por tudo isso, compreendemos que fazemos um movimento contra hegemônico. Mas você pode perguntar: contra hegemônico a quê e a quem? Para citar alguns exemplos: nascemos enquanto movimento contra hegemônico à verticalização do movimento estudantil (onde só participa quem foi eleito, quem pode votar, quem sabe o que significa todas aquelas siglas, quem ocupa cargo tal e outras posturas); continuamos contra hegemônicos à lógica dos Congressos (onde só participa quem pode pagar valores absurdos de inscrições e estudante é categoria de segunda classe); bem como somos contra hegemônicos à criminalização dos movimentos sociais. Ressaltamos, ainda, que vivemos em um Estado de democracia representativa e lutamos por participação social. Vivemos em um Estado que, muitas vezes, negligencia as demandas de gênero, raça, classe, escolaridade, etc; e problematizamos as opressões. Iremos exercer uma profissão cuja formação, por vezes, também negligencia demandas como essas, entretanto as evidenciamos. Entendemos o EREP, portanto, como forma de proporcionar espaços de discussão para que possam haver sensibilização das pessoas e da sociedade. Lutamos por uma visão crítica de cidadãs e cidadãos, estudantes de psicologia e futuros profissionais. Tentamos, na medida das nossas possibilidades, que nossas inquietações não se findem ao término do último dia do EREP. Que o ocorrido no encontro vire movimento, que transpasse as barreiras do imobilismo estudantil, que vire desassossego nos cursos de Psicologia do Norte-Nordeste e do Brasil. Para tanto, contamos com a sensibilização dos estudantes e nem sempre conseguimos ou nem temos noção de onde vai parar o EREP pelo país e (quem sabe) pelo mundo.

NOSSO ENCONTRO É POLÍTICO, ACADÊMICO, CULTURAL E VIVÊNCIAL

Entendemos que nossa concepção de política é bastante ampliada. Nesse sentido, tanto podemos compreendê-la como grupo partidário, campanha, eleição... mas não é sobre isso que estamos querendo nos referir quando dizemos que o EREP é um encontro político. Acreditamos que a política está no nosso dia-a-dia, nas nossas escolhas e posicionamentos diante de nossas realidades sociais, culturais, econômicas, mas também diante de nossas conversas com amigos, vizinhos, familiares; quando estamos fazendo movimento estudantil. Quando pensamos em organizar um encontro, buscamos, dentre outras coisas, movimentar estudantes de psicologia do Norte e Nordeste, assim estamos fazendo política e fazemos Movimento Estudantil.

Já o caráter acadêmico do EREP proporciona um espaço de troca de conteúdos acadêmicos entre estudantes, sobre as produções que fazemos, cada um em sua universidade do Norte e Nordeste. Existe um espaço formal e instituído para essa troca, que hoje chamamos de “experiências em debate”. Entendemos, contudo, que essas trocas acontecem durante todo o encontro, nos mais diversos espaços, que vão desde as ‘mesas redondas’, até as filas do refeitório. Isso quer dizer que a gente dá vazão e acolhe sim essas “demandas da academia”. Afinal, é dessa perspectiva que nós partimos, muitas vezes, para falar sobre as coisas que acontecem ao nosso redor.

E.. sendo o EREP um encontro que agrega estudantes de diferentes localidades, faculdades, estados e até de diferentes regiões, por que não trocarmos cultura? E então, acontece uma troca de culturas muito forte entre a gente ao longo desse processo chamado EREP, que culmina com os quatro dias de encontro. Além de conhecer, claro, as realidades e costumes do estado que nos acolhe durante o evento. Existem ainda os espaços reservados na programação como as ‘atividades culturais’ e os outros espaços formais, ou não, em que são proporcionadas trocas de culturas locais.

Existe ainda um caráter vivencial ao qual nos propomos. Nos espaços programados de discussão sempre são estimuladas e priorizadas atividades em que erepianas e erepianos possam vivenciar o debate não apenas através de discursos de outros ou de textos como ‘verdades prontas e acabadas’. O que se busca é uma implicação de cada participante nas discussões trazidas no encontro, para que cada uma e cada um possa viver a problemática e construir opiniões, posicionamentos e escolhas com as outras e os outros participantes do encontro. Vivenciar, para a gente, é sair um pouquinho de nós mesmos e nos compartilharmos para os outros que estão ali, em nossa volta. Esse empréstimo demanda da gente disponibilidade para expor pensamentos, sentimentos, reflexões, impressões...

Todas essas características se complementam e dizem muito do que esse encontro se propõe a ser. Nenhuma destas excluem nem mesmo sobrepõe-se uma a outra; perpassam todos os espaços do encontro.

EREP N/NE: feito PARA ESTUDANTE, DE ESTUDANTE, COM ESTUDANTE...

Dizemos que o EREP é feito para estudante, de estudante, com estudante... mas, para que isso aconteça se faz necessária a participação de cada uma(um) na construção dos espaços, já que, ainda que hajam espaços programados e propostos por um grupo, eles não aconteceriam sem a participação e contribuição de cada uma(um).

Além do mais, este grupo que propõe, que hoje se denomina COEREP; é formado por nós, estudantes de psicologia do Norte e Nordeste, que querem e acreditam no Encontro. Ou seja, qualquer estudante que tenha interesse pode participar mais de perto e ativamente da construção do nosso EREP N/NE, afinal, o “EREP é Nosso!” e será cada vez mais, quando novas pessoas, com novas idéias, pensamentos e ideologias juntarem-se. Portanto, o EREP N/NE é um encontro que é feito por estudantes, com estudantes, para estudantes. Construir o encontro é também participar dele, tal qual participar é também construí-lo.

A princípio, temos a dizer que nos propomos a fazer um trabalho antiburocrático, no sentido de não nos perdermos em trâmites burocráticos e estarmos próximos de todo e qualquer estudante que queira se aproximar da organização do encontro. Sabemos de algumas limitações nesse sentido, mas trabalhamos no sentido de funcionar através da autogestão. Mas então, o que seria isso?

AUTOGESTÃO

E para aquelas pessoas que participam do encontro, durante seus quatro dias, existem também responsabilidades sobre ele. Nesse sentido, todas(os) os participantes organizam e são responsáveis pela realização do encontro.

Chamamos de auto-gestão essa co-responsabilização pelo encontro, e ela pode se dar de várias formas. Não há regra estabelecida, mas a idéia é que não haja sobrecarga de trabalho para as pessoas que se dispuseram a estar na organização. As informações sobre o funcionamento do encontro, uma vez compartilhadas, são uma ponte para que grupos de estudantes se responsabilizem por algumas tarefas ao longo do encontro. Varrer o chão de salas que serão utilizadas, ajudar a organizar a fila das refeições, levar os materiais dos espaços de discussão para as salas em que eles ocorrerão, carregar garrafão de água... A lógica da auto-gestão vai no sentido oposto ao que estamos acostumadas e acostumados a ver por aí, em outros eventos, em que se paga por um serviço e se exige que ele seja bem prestado. O EREP sai dessa lógica mercadológica em que patrões e serventes estão claramente estabelecidos, por intermédio do dinheiro, uma vez que todas e todos somos responsáveis pela manutenção dos espaços físicos do encontro e por seus espaços de diálogos e afetos.

NOS ENCONTRAMOS DURANTE TODO O ANO

Quando falamos de COEREP, estamos nos referindo ao grupo que durante um ano inteiro reflete e trabalha para que o EREP N/NE aconteça. Esse grupo se divide em comissões de acordo com as nossas necessidades, atualmente são sete: sistematização, acadêmico–política, saúde, comunicação, artístico-cultural, finanças e estrutura. Essas podem mudar dependendo das necessidades e devem se articular durante todo o ano de preparação e essa é mais uma característica constitutiva do nosso coletivo.

Esse coletivo tem como princípio fazer as informações circularem e se tornarem acessíveis a quem se interessar, para isso temos uma lista de e-mail[1]. Nos encontramos com uma freqüência que varia entre semanas, em Reuniões Virtuais - encontros via ‘msn’ em que discutimos as pautas emergentes no momento; e quatro vezes por ano nos encontramos em reuniões: 3 presenciais e 1 encontro. Esses acontecem : (1º) meses após o EREP, quando avaliamos o encontro e fechamos o caixa; (2º) entre o início e o meio do ano, quando reconhecemos o local SEDE e fazemos o nosso planejamento para todo o ano; (3º) um mês antes do encontro, no local onde o encontro será sediado, pois temos o propósito de nos apropriarmos do espaço físico e ainda finalizar as tarefas, na medida do possível; e por fim, (4°) no próprio período do EREP. Temos tentado, em nossas reuniões de articulação, discutir temas de formação política e surgem debates bem interessantes que, por vezes, desdobram-se no EREP. É bem verdade que a urgência dos assuntos organizativos do encontro tomam bastante tempo nesses espaços de construção, mas não podemos perder de vista e temos que trabalhar para que as discussões sobre temas emergentes na sociedade não se percam nesses nosso encontros.

NÃO PODEMOS ESQUECER QUE É PRECISO RENOVAR

Outra coisa muito importante de lembrar é da constante auto-avaliação. A cada nova tarefa, a cada novo momento, a cada novo ano precisamos repensar as nossas práticas. Não queremos que o nosso trabalho se torne mecanizado e/ou sem propósito. O que estamos fazendo? Como estamos fazendo? e Por que estamos fazendo o EREP? São típicos questionamentos que não podemos deixar de lado.

O EREP já tem feito parte da agenda de estudantes de psicologia de ambas as regiões. Todo mês de outubro é tempo de um (re)encontro, um tempo de entrega, um tempo de se abrir às possibilidades de articulação política e cultural – indissociáveis na verdade - de uma forma crítica e prazerosa, mas a gente precisa se renovar. A cada ano, pessoas que estavam no movimento em outros anos se despedem; a cada ano pessoas novas se aproximam com vontade de construir e contribuir com o movimento, do jeito que pode.

Essa relativa rotatividade tem sido muito positiva nesses anos de EREP. A oxigenação de idéias, de objetivos, de ideais é importante para a gente. Nosso movimento, nossa forma de nos movimentarmos não se mostra estática. Então, um dos mais importantes princípios nossos é renovar...

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